sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Relato de Parto (4/9)- VBAC Domiciliar – Valentina – 21.04.2016

Parte 4


As 3h15, ainda no chuveiro e apoiada na bola, senti o “ploc”.

“Rê, rompeu a bolsa”. Curiosa e controladora imediatamente ergui o corpo para verificar a cor do líquido: gruminhos, sanguinho, tudo limpinho.

Lia vem avaliar.

“Me ferrei, agora a dor vai piorar!”

“Fica tranquila que não tem como doer mais do que já está”, a parteira pontuou divertida. (uma vez que as contrações já estavam muito próximas e intensas).

Então eu fiquei ali quietinha, e quando o olho se permitia abrir eu espiava Lia e Douglas formando uma dupla na montagem da piscina. Ela cortando a lona, preparando seus materiais sobre minha mesa de jantar. Ele trafegando baldes e mais baldes de água quente. Caramba, que emoção! Eu esperei tanto por esse dia, chegara a minha vez.




A madrugada avançava e eu não encontrava posição confortável. Vontade de experimentar outras posições, de deitar, mas sempre vinha o medinho de doer mais. A verdade é que a gente tenta a todo custo minimizar a dor. 

Sede. Muita sede, mas não conseguia beber água. Náuseas. Renata trazia gelo picado, eu molhava a boca e cuspia. Nada entrava, a ordem do dia era sair!

EO verificava os batimentos de tempos em tempos. Eu referia muita dor durante as contrações, sentia que eram muito próximas. Por vezes, mal terminava uma e a próxima onda começava. Então, às 4h Lia sugeriu uma primeira avaliação. Interessante como nem sempre a gente segue o roteiro que estabelece previamente. Minha cama estava repleta de lona e lençóis mais velhos, mas seguimos para o quarto da Maju, pois ela dormia no meu quarto.

Deitei sobre a cama e o mal estar pela posição em decúbito dorsal foi imediato. Entre as contrações Lia conseguiu realizar o toque e tão logo e iniciou o exame percebi a frustração em seu olhar (aqui convém mencionar que Lia é a pessoa de olhar mais transparente que eu conheço). Com aquela expressão, já sabia que não teria nem os tais 5cm de dilatação (Linha Púrpura Paraguaia de certo). Eu não queria saber quanto tinha, e ela não fez menção de me contar.

“Falta muito?”, soltei.

“Sim, ainda falta. Colo está médio para fino”, respondeu do alto de sua frustrada sinceridade.

E omitiu, com a devida conduta, que eu tinha, pasmem, apenas 1 para 2cm de dilatação. (Certamente se estivesse no hospital, sem a companhia de uma equipe humanizada, seria conduzida nesse exato momento, a uma cesárea por “não ter dilatação”)

Na hora pensei algo como: “foooodeu!” Sim, porque eu sabia que provavelmente teríamos muitas horas de dor ainda pela frente. E eu já não aguentava mais tanta dor. Eu não queria mais dor. Eu precisava conter a avalanche porque não chegaria ao cume daquele jeito.

“Lia, eu preciso entrar na banheira, preciso frear um pouco, senão não vou aguentar”.

Ela concordou de imediato, como sempre sensível ao desejo do nosso corpo e confiante no poder da natureza. “Acho que a água está muito quent...” Lia nem terminou a frase e eu já estava sob a água da piscina (rs).

Senti uma corrente de relaxamento regozijante. Deste ponto em diante as ideias se confundem ainda mais. Maju acordou em algum momento que não percebi. Mas me recordo de vê-la se aproximar curiosa. Bem vindos ao segundo estágio do meu TP: contemplação. Talvez o início de uma partolândia meio bêbada (rs), meio descompassada com o caminhar da dilatação.




                                                                                                                       


Nenhum comentário:

Postar um comentário