sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Relato de Parto (8/9) - VBAC Domiciliar – Valentina – 21.04.2016

Parte 8


Voltei a atenção para a próxima contração. Mais força. Ardia.

“Já conseguem ver a cabeça?”, eu questionava.

“Não”. 

“Como assim?”, pensava, sentia ela tão baixa!

Mais uma contração e mais força. Escorregou mais.

E no misto da dor e ardência, um prazer imenso em percebê-la descendo pouco a pouco.

“Está chegando!”. Lia posicionou o espelho e a avistou, entusiasmada. 

Douglas rapidamente se levantou para vê-la (detalhe que ele havia dito que não queria ver durante TODA gestação). Eu não pedi para ver.

“Quer toca o cabelo dela?”

“Não”. Sentindo quase uma irritabilidade por ela não nascer logo. “Quero que nasça", emendei mentalmente.

Mais um puxo e a cabeça saiu até a metade. 

"Ela tem que nascer agora!" (Lia desfez a circular que passava pela testa)

"Não tem contração". 

"Má, vou te passar ela por baixo na próxima contração" 


Lia (EO) e Cris (ENeo)

Veio a contração.

10h10. Nasceu.

Lia imediatamente passou ela por debaixo do meu corpo. Agarrei. Lisa, escorregadia, molinha, fofa.

Num giro sentei. Abracei. Olhei meio que embasbacada.

"Que bracinho gordo!" (primeiro pensamento nada romântico rs)

Tempo parou. 

Valentina não respondeu de imediato. Cris e eu estimulamos peitinho e costinhas simultaneamente por um breve tempo que não sei precisar. Eu puxava o ar com vigor. Cordão pulsava. 

“Pode acordar tranquila meu amor” repetia em pensamento enquanto rememorava a recepção de outros bebês 'preguiçosos' de amigas.

Voltei de meus pensamentos e ouvi Lia numa sincronia perfeita: “isso, calma, respira, o cordão ainda está pulsando”.

Valentina abriu os olhos repentinamente, como num sopro Divino: viva! 

E no próximo segundo escutei seu primeiro choro. Ali, no meu colo, no meu aconchego. Bem-vinda, minha valente, minha Valentina!

Chorou alto. Maior bocão. Estaria brava? 

Seu primeiro olhar foi meu. Imprinting.

Meu coração parou tamanha a explosão de A-M-O-R! Gorda (4.040g), grande (54cm), bochechuda, linda, minha! Um sentimento de gratidão me inundou. Um desejo de chorar lágrimas que não caíam. Um choro de alma. 




Ganhei um beijo da parteira, outro do marido. Um carinho da doula. Todos felizes e sorridentes. Um parto é sempre uma onda de ocitocina para todos. Talvez um VBAC seja um tsunami. Dentro de mim uma descarga avassaladora. Talvez parir seja como usar a mais potente droga, te leva a um pico de prazer indescritível. Vicia. Basta uma única dose.

Ah, esse sorriso! Valentina ganhando dose extra de "arzinho" da tia Cris.




Contemplei minha bebê enamorada. 

Acabou. 

Alívio. 

A linguinha começou o movimento de pré sucção. Ergui o top e coloquei ela junto ao peito.

“Cheira a mamãe, meu amor!”



Cordão parou de pulsar. Papai Douglas cortou. Estávamos oficialmente separadas fisicamente, mas ligadas eternamente. Pedi ao marido que tirasse uma foto e enviasse aos grupos de Whatsapp de nossas famílias, afinal ninguém sabia que Valentina estava chegando, especialmente que seria em casa. 




Após alguns minutos, na primeira e única contração, nasceu a placenta e encerramos o ciclo. Sim, agora fechamos o ciclo.

Um comentário:

  1. Marcela vc é uma mulher corajosa, forte e guerreira! Vc é um exemplo! Que tijilinho que nada vc plantou muito mais do que isso! Seus relatos são fascinantes e com certeza despertarão em muitas mulheres esse sonho! Te admiro daqui até o infinito!

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