sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Relato de Parto (1/9) - VBAC Domiciliar – Valentina – 21.04.2016

Parte 1

Mãe: Marcela Battilani Belo
Pai: Douglas V. Mazzetto Belo
Irmã: Maria Julia B. Belo
GO: Edson L. Rudey
Doula: Renata Frossard
Equipe PD - Semilla: Enf.ª Obstetra: Eliana D. P. Cismer
                               Enf.ª Neonatal: Cristiana P. F. Pinto


Já se passaram 5 meses do nascimento da minha filha Valentina e enfim consegui finalizar meu relato de parto. Aqueles que me conhecem de perto sabem do profundo respeito que tenho pela chegada de uma nova vida ao mundo e o quanto o tema me encanta e emociona, especialmente o nascimento por via natural. Então eu precisava gestar esse relato também. Necessitava de algum tempo para degustar o sabor de parir um filho apenas comigo mesma. Precisava encontrar palavras que pudessem expressar esse êxtase e plenitude dentro de mim, precisava acalmar a felicidade transbordante e ter a certeza de que realmente estava vivendo um puerpério tranquilo, doce, maduro.


Esse não será relato curto. São 9 partes especialmente escritas para dividir e inspirar. E se você, leitor@, conseguir chegar até o fim, espero que possa valer a pena. 


O legado de Maria Julia

  

Nasci de parto normal, com direito a pacote de violência obstétrica completo. Ainda assim, minha mãe sempre nos incentivou ao parto. “A recuperação é mais rápida”, dizia ela, após dois partos e uma cesárea. Mas, internamente já vislumbrava que haveria mais, muito mais do que "apenas" recuperar. Eu sempre desejei parir. Pelo meu bebê, por mim. Fazia parte do meu ideal de maternidade.

Em 2011, após 39 semanas de gestação, fui induzida a uma cesárea desnecessária, que teve como pano de fundo a diabetes gestacional, que estava controlada por rigorosa dieta, a propósito (e aqui reforço que o próprio GO me disse posteriormente que foi uma conduta baseada em seu instinto e não evidências). Na época, com medo, sem metade do empoderamento e rede de apoio atual, acatei.

Não tive um evento cirúrgico ruim, mas emocionalmente carreguei a ferida aberta de um ciclo que não encerrou. Minha filha Maria Julia chegou linda e saudável, mas meu corpo pedia algo que eu não pude dar. Era como se eu ainda estivesse grávida. Queria voltar no tempo, queria minha barriga de volta. Momento confissão: chorei muitas vezes no chuveiro simulando os movimentos do parto que eu não tive. Também fui perseguida pela culpa de não lhe proporcionar um nascimento natural com todas as suas vantagens. Toda essa salada mista impactou em muitos aspectos de minha vida, afinal, vivi a antítese de todas as minhas crenças sobre o bem nascer.

Usei os anos seguintes para estudar e fortalecer meu desejo de parir respeitosamente, livre de intervenções desnecessárias, livre para exercer a plenitude de um trabalho de parto e nascimento dignos, cercada e protegida pelo amor da minha família. Quando o filme O Renascimento do Parto estreou, levei meu esposo comigo. O filme possibilitou que o Douglas compreendesse efetivamente o que se passava dentro de mim. Compartilhamos o silêncio mais simbiótico de nossas vidas. Então nossos desejos se cruzaram, e no fim do filme, com os olhos marejados, ele disse: 

“Agora eu entendo, nosso próximo filho nascerá como e onde você quiser”. 

21.12.2011 - Bem vinda meu novo ser, bem vinda minha Maju!









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